Os anos passam e nada me surpreende mais do que a rejeição à velhice. Inclusive a minha. Não a minha rejeição à velhice. A minha velhice. Outro dia o DeBona sugeriu comprar aquelas poltronas de vovô/vovó. Sabe? Aquelas bem confortáveis, que inclinam, têm apoio para os pés e outros luxos. Assim, substituiríamos o lugar onde mais gostamos de ficar em casa, o sofá da sala, pelas poltronas. Discordei, claro!
Se comprássemos as poltronas, declararíamos nossa velhice. Seria tão gostoso ficar ali, aconchegado na poltrona. Porque eu sairia?
Nada como um sofá desconfortável para nos expulsar de casa.
Concordo com a importância do conforto. Concordo com a segurança. O aconchego e o aprochego.
Mas quanto maior o conforto em casa, menos saímos para encher os olhos com outras paisagens e a mente com outras ideias.
Não pretendo ser o tipo de velhinha que só fica em casa, rejeitando o mundo. Pretendo ser aquela com os olhos arregalados para ver o andar das coisas. Para ver envelhecer os corajosos, os medrosos, os pobres, os ricos, os obcecados, os saudáveis, os doentes, os que se acham, os que se perdem, os iguais, os diferentes, os que fomentam, os tamásicos, os santos, os criminosos, os inexpressivos, os preconceituosos, os queridos, mal amados, os que fazem, os que nada.